Tu Voltarás


Cadete ...
Tu Voltarás

Quem te saúde é o ex-cadete de Artilharia, n° 736, hoje velho professor desta Casa. E te quero saudar porque és safo; com a mesma galhardia com que encaras uma pista de aplicações, resolves uma prova de Mecânica ou Português.
Repara bem, os gramados da Seção de Educação Física e o Campo de Marte têm um verde todo especial, só deles. É que vem sendo regados pelo suor cadetal há quase sessenta gerações. Inclusive a minha e a tua.
Encaras um inopinado, em plena madrugada, como algo “sacal”, mas iniludível. Não “chafurdas” diante daquilo que é humanamente possível, ainda que com um bando de “tenentes” nos teus calcanhares.
Podem de “torrar” à vontade que jamais te roubarão aquele estado típico do Cadete, gozador até dos piores momentos, e incrivelmente apto a pôr apelidos nos companheiros, em todos os seres humanos, em tudo que te cerca. És a exata mescla das duas mais safadas raças, soldado e estudante!
Sabes, por experiências várias, que nada resiste a um bom gagá. Por isto, no rol de teus macetes, não podes abrir mão da gagazeira. Nem do “bizu” da véspera, fundamental.
Já conheces os efeitos do capim-gordura nos rastejos pelo Carrapicho, no Macuco, Dinossauro e alhures, Sobretudo, por aquela morraria áspera que o demônio e o saci plantaram em derredor da Fazenda Boa Esperança. A SIEsp aperfeiçoa, ano a ano, a procura do limite da tua resistência física e mental. Por enquanto, vocês estão empatados.


Sabe-se que estão desenvolvendo um tipo de guerra inédita, tipicamente tupiniquim: a guerra carrapatal. Para tanto, estabeleceram criatórios do maldito verme, por todos os cantões do Campo de Instrução, exatamente para infernizar a vida dos “verdinhos”. Mas não será isso que tirará a tua bonomia. Fica frio!
Tua aspiração, a curto prazo, é o licenciamento. Quanto menos tempo na “bolha”, melhor. A longo prazo, a Espada. Juras que, saído pelo Portão dos Novos Aspirantes, aqui não tornarás a pôr os pés. Nem morto!

Mas eu te contraponho, jovem Cadete de 1983: a única grande lacuna da vida cadetal é que não te dás conta de que estás passando pelo período mais feliz de tua vida militar. Podes rir, deste velho professor...

Porém, num dia deste, naquele intervalo pós-rancho do jantar, no melancólico instante em que o sol estiver se pondo por cima das Agulhas Negras, vai até o canto noroeste do Pátio Tenente Moura e mira aquele rol de placas de bronze das mais de cinqüenta  turmas de Cadetes que te antecederam. Todos eles - eu próprio - juramos nunca mais voltar.

Mas voltamos, meu estimado Cadete, e, até, com uma lágrima de saudade. Ri, sorri, deste velho, mas, por favor, confere: o denominador comum de todas as mensagens é a saudade desta Casa Geratriz, do nosso tempo de Cadetes. Éramos felizes, e não sabíamos!
Tu voltarás!



                             Cel R/1 Panizzutti